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Série especial Dia de Finados: reflexões da fé, acolhimento das religiões e serviços assistenciais

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Conheça os serviços que prestam apoio e a interpretação da morte para a religião, o apoio psicológico e o que diz a legislação para o trabalhador que perde ente querido

Na quinta-feira, 2 de novembro, o Brasil e a maioria dos países ocidentais celebram o Dia de Finados. A data surgiu por sugestão do abade Odilon de Cluny, na Idade Média, e é um dos mais importantes rituais religiosos da tradição cristã. Até os dias atuais, é tradição de ir aos cemitérios levar flores para depositar nas lápides em memória dos que se foram; outras levam também velas e cumprem os rituais mais tradicionais, como orações, cânticos etc.

Por isso, nesta reportagem especial, dividida em três partes, o Jornal da Diplomata aborda o assunto com diversas entrevistas para compreender como a data é vivida pelos moradores locais, a importância do serviço prestado pela Igreja, o apoio psicológico aos que enfrentam o luto e o que diz a legislação sobre os trabalhadores que precisam se ausentar por um período do emprego após perderem entes queridos e viver o processo do luto e, só assim, poder voltar ao ofício. 

(Imagem: Ilustração/internet)

Consolo de Deus: A religião e a espiritualidade

Para a Igreja Católica, a data relembra a memória dos mortos, dos entes queridos que já se foram. Por essa razão, a alma necessita de orações dos vivos para que intercedam a Deus pelo sofrimento que as aflige.

Conforme exemplifica o padre Adilson José Colombi, sacerdote da Congregação dos Padres do Sagrado Coração de Jesus na Paróquia São Luís Gonzaga e doutor em Filosofia, o costume de rezar pelos mortos foi introduzido paulatinamente na liturgia da Igreja Católica.

O sacerdote lembra que o 2 de novembro está relacionado à memória de todos os fiéis defuntos, com forte ligação à data celebrada um dia antes: o Dia de Todos os Santos e mártires, conhecidos ou não.

Padre Adilson Colombi

Por quê visitar os cemitérios?

Padre Adilson recorda que a tradição de visitar os entes queridos que já não estão mais entre nós traz um significado que acentua a certeza de que a nossa vida não termina aqui, na Terra. “No fato de celebrar os fiéis defuntos estamos, de certa forma, queremos dizer que acreditamos que a vida não termina no cemitério; ela continua, de uma maneira diferente. E também que temos vida, e essa vida tem um começo e não um fim”, atesta. “A ressurreição de Jesus é um grande paradigma da nossa ressurreição. Ela decorre da conquista que Jesus conseguiu com a sua Paixão, Morte e Ressurreição. Ele disse ‘Também nós, se formos fiéis, à Sua proposta e vivermos isso com seriedade, maturidade e responsabilidade ressuscitaremos como Ele ressuscitou” ‘.

A Paróquia São Luís Gonzaga possui uma pastoral especial que direciona sua atenção às pessoas onde as famílias permitem e se prontificam a dar uma assistência aos seus enfermos. Além dela, também auxilia a Igreja os Ministros que distribuem a comunhão às pessoas que solicitam para receber em suas casas. Também existem as pessoas que solicitam o recebimento do Sacramento da Unção dos Enfermos, e há toda uma assistência que a Igreja faz para aquelas pessoas que são acometidas por uma enfermidade ou pela idade, que as impedem de sair de casa, explica o padre.

Exéquias

O Rito de Exéquias é uma celebração litúrgica da Igreja Católica. Nele, é proferida a Palavra de Deus referente à morte. “É nesse momento que a Igreja, meditando a Palavra de Deus, e fazendo a sua prece, lembra de modo especial à bondade e misericórdia de Deus. Porque, quando nos colocamos em oração, sempre estamos pedindo algo, e esquecemos de agradecer. E esse é um momento de agradecer pelo dom da vida, por tudo que a pessoa que estamos sepultando trouxe para outras pessoas, porque foi dado a ela a ocasião de fazer coisas bonitas. E nesse momento podemos dizer muito obrigado por tudo aquilo que essa pessoa fez de bom e trouxe tanta alegria para muitas famílias, seja por sua vida, trabalho, fé ou com seu testemunho entre nós”.

Afinal, qual é a mensagem que a morte nos traz? De maneira geral, a morte nos faz refletir sobre a vida, como compartilha padre Adilson, aos seus 81 anos. “No fim, deixamos apenas nossa história. Nada mais. Acredito que uma das coisas boas que podemos deixar, é o nosso exemplo, nosso testemunho de vida”.

“A morte não tem a última palavra sobre nossa existência”

O Pastor Claudio S. Schefer, pároco da Paróquia Bom Pastor da Igreja Evangélica de Confissão Luterana, enfatiza que é comum as pessoas não gostarem de falar sobre a morte, mesmo sendo uma realidade diária entre nós. “A morte é uma consequência natural de todo ser vivo: nascemos, crescemos, nos multiplicamos e morremos. O dom gratuito de Deus é a vida abundante e eterna, essa é nossa fé. Como cristãos, e não necessariamente luteranos, nos diferenciamos de todas as demais religiões, pois cremos na ressurreição, cremos que a morte não tem a última palavra sobre nossa existência, e como conseguimos ter essa esperança?  Ela vem a partir do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo e, também, com os fatos comprovados historicamente de que Jesus foi crucificado, morreu na cruz, foi sepultado, mas não permaneceu na morte, Ele ressuscitou. E essa ressurreição é a prova de que a Sua palavra é verdadeira. Os que creem em mim, ainda que morram, viverão”. (João 11,25-26).

Pastor Cláudio concorda que raros são aqueles que não sofrem humanamente a perda de entes queridos, chorar faz parte do processo de enfrentar o luto e manifestar a dor e a fé ajuda a amenizar este fardo. “Temos um consolo e uma esperança: a morte foi vencida”.

Como explica o pastor Cláudio.

Pastor Claudio Schefer

No dia 2 de novembro, a Igreja Luterana celebra uma antiga tradição trazida do Norte da Alemanha de realizar, no Dia de Finados, um culto no início da manhã (7h), no cemitério, em um espaço destinado aos paramentos litúrgicos em uma igreja a céu aberto. “É muito significativo, pois estamos entre os túmulos dos nossos falecidos, e lembramos da nossa esperança que vai além da sepultura, olhamos para um novo céu e uma nova terra”, conta.

Neste culto, participam entre 500 e 600 pessoas. “Ali, entre nossos irmãos já falecidos, nos consolamos na certeza de que a morte é apenas uma passagem e olhamos para aquele momento em que seremos chamados dos sepulcros para essa nova vida na eternidade”.

A dor da perda de um ente querido não é privilégio só de cristãos. É uma dor universal. E é mais doloroso, principalmente, quando pessoas jovens partem do nosso meio. “É humano, porque você tem amor às pessoas que estão junto de ti, do teu círculo familiar, a falta dessa pessoa querida será dolorida. O primeiro ano traz um sentimento ainda maior de saudade. Mas não pode ser um desespero, é uma saudade”, finaliza.

“O processo do luto precisa ser respeitado”

Alex Fortuna, pastor auxiliar na sede da Igreja Assembleia de Deus e coordenador do Discipulado da igreja, reflete que a morte sempre será incompreensível, pois, originalmente, o ser humano não foi feito para passar pelo doloroso processo da morte. “Entendemos que essa ruptura existencial passou a existir com a desobediência do primeiro homem criado por Deus, e, desde lá, a humanidade é marcada por uma breve passagem na história, tendo seu fim com a passagem dessa terra. Se existe uma certeza, é a de que todos, um dia, passarão por esse momento, o que nos leva a pensar sobre nossas atitudes e decisões na construção do legado que vamos deixar”.

Diante da morte, a Igreja manifesta um importante serviço e solidariedade para com as pessoas próximas. “Na Assembleia de Deus, a igreja faz o acolhimento das famílias e amigos para prestar uma última homenagem à pessoa falecida, demonstrando um sentimento de conforto, a quem passa por esse momento tão doloroso. Muito embora, diante de um momento de perda, as palavras sejam quase inexistentes para confortar. “Só quem passa sabe a dor da separação, mas entendemos que gestos e ações também ajudam, ou simplesmente a presença junto àquela pessoa que perdeu alguém. Isso ampara e alivia”, reflete o pastor.

Entender que a vida continua é um ponto de partida fundamental, como orienta o pastor. “Para quem fica, existirão os desafios de preencher os vazios deixados por quem partiu. Encarar essa realidade vai depender de muita coragem e força. O período de luto deve ser respeitado, pois trará cura para os sentimentos gerados por esse momento. E quem o enfrenta, deve evitar o isolamento, por isso ajuda de amigos e familiares será fundamental. Nesse sentido, a Igreja Assembleia de Deus cumpre seu papel orientando, acolhendo em suas reuniões, ou, também, particularmente”, explica.

Pastor Alex Fortuna

“Amor e caridade para aliviar a dor”

Para Monique Fernanda Silva Sorer Tarter, da Mensageiros da Luz, estudo de Umbanda, a morte é uma passagem. Além disso, a religião está presente na vida de seus adeptos por meio do senso de comunidade. Por isso, nos momentos de dor, os assistidos se sentem acolhidos. “Somos considerados espíritos passando por uma experiência terrena, uma encarnação. Como espíritos, somos eternos e estamos num processo evolutivo de encontro ao Pai, e a partida deste plano material é a forma que temos de chegar até ele”, explica. Para a Umbanda, a compreensão fundamental da sua existência é o amor e a caridade. Por isso, Monique explica que os guias se manifestam para ajudar as pessoas. “Nos atendimentos individuais, a pessoa tem a liberdade de expor todas as dores que sente no momento da perda. Os guias trazem palavras de conforto, e, além disso, a Umbanda compreende que tudo é energia, ou seja, tudo o que a pessoa sente emocionalmente, reverbera no seu campo exterior, ou seja, no ambiente ao seu redor. A Umbanda traz esse alívio para o campo espiritual, físico e energético da pessoa, proporcionando-a o conforto emocional”, explica.

Além disso, todo amparo é concedido às pessoas que buscam na Umbanda apoio. “Junto também com orientações sobre a parte ritualística, atos fúnebres e espiritual. Tudo isso a Umbanda faz com muita dedicação, carinho e respeito, tendo em mente que a dor de cada um é singular, cada um sente esse momento de uma forma, cada um tem direito de chorar pelo seu luto e a dor não deve ser minimizada”, detalha Monique, que orienta sobre a importância de buscar ajuda para enfrentar a dor do luto.

Monique Fernanda Silva Sorer Tarter

“Demonstre seu amor”

Luís Fernando Mafra faz parte do Centro Espírita Aprendizes, no Jardim Maluche. A compreensão do Espiritismo sobre a morte reflete sobre o renascimento espiritual. “Assim como quando chegamos nessa dimensão – ao sairmos do útero da mãe, quando a gente desencarna saímos do material para o espiritual, é um renascer. E é um renascer com um detalhe muito importante: você já leva o seu espírito, aquilo o que você sabe, que você é”, explica. “Acredite, a pessoa não morreu, porque a morte é final. Ele está numa outra situação, numa outra dimensão, e, muito em breve, isso tudo será esclarecido. Confie, acredite. Demonstre seu amor, leve uma flor a alguém que ama, como gratidão pelo tempo que viveu”.

Luís lembra que enfrentar a realidade da perda não é simples, pois a dor é humana. “Às vezes, ao invés de se enclausurar na tristeza, na depressão, coloque sua dor em benefício da sociedade, de alguma maneira, tenta encontrar, nem que seja pegando uma vassoura e indo varrer a igreja, já está bom. Isso ajuda a pessoa a se ajudar num momento tão difícil para ela”, diz. “O dia 2 não existe apenas aqui, também é nas outras dimensões. É um dia muito especial, é um dia em que, até por força do pensamento, se abrem portais para que haja muitos contatos, muitos reencontros, muito perdão, muitas coisas sejam resolvidas”, comentou.

Luís Fernando Mafra

Continua…

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