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Série especial Dia de Finados: As fases do luto – do apoio psicológico ao amparo legal

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Abertura: Na quinta-feira, 2 de novembro, o Brasil e a maioria dos países ocidentais celebram o Dia de Finados. A data surgiu por sugestão do abade Odilon de Cluny, na Idade Média, e é um dos mais importantes rituais religiosos da tradição cristã. Até os dias atuais, é tradição de ir aos cemitérios levar flores para depositar nas lápides em memória dos que se foram; outras levam também velas e cumprem os rituais mais tradicionais, como orações, cânticos etc. Por isso, nesta reportagem especial, o Jornal da Diplomata aborda o assunto com diversas entrevistas para compreender como a data é vivida pelos moradores locais, a importância do serviço prestado pela Igreja, o apoio psicológico aos que enfrentam o luto e o que diz a legislação sobre os trabalhadores que precisam se ausentar por um período do emprego após perderem entes queridos e viver o processo do luto e, só assim, poder voltar ao ofício.

As fases do luto

A Psicologia é uma importante presença para a ajuda necessária diante daquelas situações difíceis de enfrentar sozinho quando o ser passa pelo processo da perda e o luto. A Psicóloga Lia Márcia Cruz e Prado lembra que todos iremos passar pelo momento do luto e é importante compreender as fases desse processo. “São cinco fases, e a primeira delas é a negação acompanhada do isolamento, que é quando a pessoa não quer acreditar naquela morte e fugir da realidade do sofrimento. E essa fase pode durar horas, meses ou anos. Já a segunda fase é a revolta, e é uma fase delicada porque ela pode interferir nos relacionamentos familiares da pessoa que sofre, inclusive, são comprovados altos os índices de divórcio durante essa fase. A terceira fase é a negociação, onde a pessoa se questiona o que ela poderia ter feito para evitar aquilo, o que leva à culpa. Na quarta fase a pessoa tem uma grande dificuldade de retomar à vida o que a leva a um quadro depressivo. Se o luto for bem assimilado, essa fase é passageira, porém ela vem com muita intensidade, por isso é importante o acompanhamento terapêutico. Depois do isolamento e da saúde vem a aceitação – a última fase, quando a pessoa aprende a viver com a ausência daquela pessoa. Aos poucos a angústia e a revolta diminui”, descreve a psicóloga.

Lia enfatiza a importância de não ignorar o luto e compreender que toda pessoa o vive de forma pessoal. Apoios de amigos e familiares é imprescindível. A ajuda terapêutica também, porque é neste local que a pessoa encontrará um apoio seguro e neutro. “Ali a pessoa pode colocar para fora todas as suas frustrações, dúvidas, dores, expressar seus sentimentos sem julgamentos ou piedade. A terapia proporciona alívio para as dores, pois, ao verbalizar, o indivíduo reorganiza suas emoções e compartilhar traz leveza. A partir disso, ele vai se adaptando à nova realidade, conversando, percebe que pode ter novos interesses e reconhece que outras pessoas da família precisam dele”.

Em média, dependendo do grau de parentesco ou afinidade, o indivíduo leva entre 6 meses a um ano para superar o luto.

Psicóloga Lia Márcia Cruz e Prado

Luto – do aborto à Eternidade

Autora do livro “Luto – do aborto à eternidade”, Carine Pianizzer Michei narra em sua obra histórias reais de famílias diante da perda de entes queridos e, principalmente, a dor de mães que sofreram aborto. Do seu trabalho como capelã hospitalar, se deparou com a realidade enfrentada diante da dor da perda dos filhos ainda no ventre.

Ao estudar sobre o luto, Carine compreendeu que essa situação é pessoal e precisa ser vivenciada e respeitada, pois, a forma como a morte acontece e o vínculo da pessoa com seus entes queridos muda de caso a caso. Ela também chegou aos casos de síndrome pós-aborto, se deparou com o luto potencializado nas mulheres que sofreram a perda de seus bebês. “Sabendo que o luto é uma dor automática, quando eu aborto, mesmo que não tenha tido vínculo, na minha mente sei que é meu filho. Então, quando ocorre o aborto, a gente passa, sim, pelo processo da perda de um filho. E perder um filho é o processo contrário da natureza humana”, comenta a autora. 

Por semana, Carine é procurada no Brasil e fora do país por pessoas que estão passando pelo processo do luto pós-aborto. “Antigamente, as mulheres ficavam um período de luto, usavam véu preto, a sociedade respeitava um tempo para o luto. Hoje em dia, as pessoas não vivenciam mais esse ciclo. E não é assim, a gente precisa vivenciar, chorar. E é isso que o livro mostra, existem fases que precisam ser vivenciadas, respeitadas, que cada pessoa tem sua fase, e, na minha opinião, só com a fé, na esperança da eternidade, é que a gente consegue chegar na fase da aceitação”, declara.

“Quando a gente entende que há uma esperança, que há uma vida eterna, isso faz chegar a aceitação e começar a viver com essa nova realidade, que não vai ser igual, que nunca mais será como antes, e que a gente precisa compreender essa nova realidade. Vai ter hora que vai bater saudade, que vou cheirar uma roupa, terei que olhar foto, e chorar. É uma nova realidade diferente, nem melhor nem pior, e a esperança na vida eterna traz o consolo”, finaliza. 

Autora Carine Pianizzer Michei

Amparo legal

Camila Savaris é advogada especializada em questões trabalhistas. Contribuindo com um olhar sobre a legislação brasileira a respeito do falecimento de parentes do empregado, a profissional destaca a importância de se atentar à previsão legal, por meio do Artigo 473, da CLT, que prevê dois dias de afastamento do colaborador, por conta do luto. “Para mim, além de ser um direito, é mais que isso, porque estende a questão da responsabilidade cívica da empresa e, também, trata da questão da humanização da mesma, porque temos, sim, que nos colocar no lugar desse empregado, e entender todo o abalo que ele está sofrendo neste momento”, acentua.

A profissional destaca, ainda, que advém da Constituição Federal, inclusive, preservar a dignidade da pessoa humana. Então, a empresa tem, sim, uma responsabilidade, e um zelo quanto ao psíquico que esse empregado passa, seja dentro da empresa, ou fora dela, porque, querendo ou não, como um empregado passa maior parte da vida dele dentro da empresa trabalhando, exercendo seu ofício, ele traz questões que acontecem no externo para dentro da empresa. “E isso acaba influenciando sua produtividade no seu trabalho, então, nada mais justo do que respeitar esse momento do empregado, e fazê-lo com que ele tenha esse tempo para se restabelecer e poder retornar com a cabeça mais livre para o trabalho”, observa a advogada.

Continua…

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