A presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Subseção Brusque, Cristiana Guérios, falou ao Jornal da Diplomata na manhã desta segunda-feira, 08. Em destaque o alerta e as ações organizadas pela OAB, em conjunto com a Polícia Civil de Santa Catarina, para combater crimes de golpes envolvendo falsos advogados, que tem lesado muitas vítimas em Brusque e na região.
Criminosos usam dados de processos para enganar vítimas mediantes solicitação de pagamentos via PIX, com taxas ilusórias.
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O golpe do falso advogado, que vem se espalhando pelo país e colocando em risco a confiança no sistema jurídico, já começa a enfrentar reações concretas em Santa Catarina. Graças à força-tarefa Contragolpe da Ordem, articulada pela OAB/SC, operações recentes da Polícia Civil resultaram em prisões e apreensões contra quadrilhas que usavam indevidamente o nome de advogados para enganar vítimas e obter transferências via Pix.
Apesar de não ter um marco inicial preciso, esse golpe — que também representa um golpe contra todo o sistema de justiça — ganhou força nos últimos anos, acompanhando o avanço da tecnologia. Criminosos aproveitam ferramentas digitais e o acesso a dados públicos para dar um ar de legitimidade às fraudes, tornando-as ainda mais difíceis de identificar. O problema é tão sério que, segundo a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) por meio de dados da agência Lupa, já foram registrados 17,5 mil casos do tipo no país.
CONTRAGOLPE DA ORDEM JÁ MOSTRA RESULTADOS
A reação institucional ao chamado “Golpe do Falso Advogado” já começou a dar frutos. Nesta quarta-feira (20), foi deflagrada a Operação Lex Falsa, em conjunto pela Polícia Civil de Santa Catarina, OAB Santa Catarina e Poder Judiciário, resultando no cumprimento de 66 ordens judiciais, entre elas 27 mandados de busca e apreensão e 12 mandados de prisão em seis estados brasileiros.
O avanço, amplamente divulgado pela mídia nacional, é reflexo também da aproximação institucional firmada no início deste ano. Em abril, o presidente da OAB/SC, Juliano Mandelli, e o diretor executivo da Seccional, Thiago Degasperin, estiveram reunidos com o delegado-geral da Polícia Civil de Santa Catarina, Ulisses Gabriel, para solicitar parceria na ampliação e disseminação da força-tarefa Contragolpe da Ordem.
“Essa operação mostra que estamos vigilantes e que não vamos permitir que a advocacia e a confiança da sociedade na Justiça sejam descredibilizadas. A parceria com a Polícia Civil, sob a condução do delegado-geral Ulisses, tem sido fundamental para fortalecer essa frente de combate”, afirma Mandelli.
A operação, realizada em Joinville pela Delegacia de Combate a Estelionatos da Polícia Civil de Santa Catarina, em parceria com o Núcleo de Inteligência e Segurança Institucional do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina (NIS/TJSC), teve como alvo um grupo criminoso que se passava por advogados e aplicava golpes na cidade.
Para a presidente da OAB Joinville, Janaína Silveira Soares Madeira, a ação representa um avanço significativo e coletivo: “A Operação Lex Falsa, realizada em Joinville, demonstra a importância da atuação conjunta da OAB, Polícia Civil e Poder Judiciário. Advogados da nossa cidade e seus clientes são vítimas, além de todo o sistema de justiça. Esta ação mostra que estamos firmes no combate a essas fraudes em todo o estado.”
O GOLPE EM DETALHES
O golpe segue um roteiro quase sempre idêntico. Tudo começa com um número de telefone desconhecido, mas cuja foto de perfil e nome simulam um escritório de advocacia — em alguns casos, até a imagem do próprio advogado (também vítima) é usada indevidamente.
Os criminosos vasculham sites de Tribunais de Justiça em busca de processos públicos, identificando clientes que têm valores a receber. Com esses dados em mãos, entram em contato utilizando jargões jurídicos e narrativas convincentes, fingindo ser os advogados originais ou seus representantes.
Frases como “melhoramos nossa estrutura, este é o novo número” ou “nossa secretária entrará em contato sobre seu processo” são comuns para justificar a mudança de contato.
Para dar veracidade, são encaminhados documentos falsificados, contendo:
- Brasões da República e timbres oficiais de Tribunais;
- Cópias forjadas de sentenças ou despachos judiciais;
- Tabelas de cálculos supostamente feitas por peritos;
- Ofícios de liberação de valores assinados por juízes ou servidores — muitas vezes reais, mas com identidades indevidamente utilizadas.
O enredo leva, inevitavelmente, à cobrança de uma “taxa” inesperada para liberar valores que o cliente aguarda. A urgência é sempre enfatizada: os golpistas alegam que, sem pagamento imediato, os valores seriam bloqueados ou retornariam aos cofres públicos. O dinheiro é solicitado via PIX ou depósito bancário para contas de terceiros — geralmente pessoas físicas ou empresas de fachada. Após a transação, o contato é interrompido e a vítima é bloqueada.
O LADO CRIMINAL E O PERFIL DOS GOLPISTAS:
Os golpistas que aplicam o “falso advogado” atuam em rede, com estrutura profissional e ramificações interestaduais. Em muitos casos, há núcleos especializados em cada etapa da fraude: captação de dados, contato com a vítima, falsificação de documentos e recebimento dos valores.
Em 2024, a OAB Santa Catarina já registrava denúncias e monitorava casos do Golpe do Falso Advogado. Em fevereiro daquele ano, a Polícia Civil catarinense, em parceria com a do Ceará, deflagrou uma das fases da Operação Falso Advogado, cumprindo 57 mandados na Grande Fortaleza. A investigação revelou mais de 30 vítimas e prejuízos superiores a R$ 300 mil.
UM CONTRAGOLPE PARA O GOLPE
Em fevereiro de 2025, a OAB/SC lançou o Contragolpe da Ordem, uma força-tarefa inédita de combate ao golpe do falso advogado. O anúncio ocorreu durante a 1ª Sessão do Conselho Pleno da Seccional, no dia 21 de fevereiro, e marcou um novo patamar na reação institucional contra o crime. A operação é dividida em quatro frentes: medidas de proteção, recebimento de informações com apoio aos escritórios, suporte jurídico à advocacia e um núcleo de inteligência de dados para auxiliar as autoridades na responsabilização criminal dos estelionatários.
O foco é atingir diretamente a engrenagem dos golpes, que têm como alvos cidadãos com processos na Justiça. “Essa é uma frente de atuação direta da OAB com as autoridades, em que vamos reunir provas e indícios, atender advogados e advogadas, além de orientar a população e nossos clientes”, afirmou o presidente da OAB/SC, Juliano Mandelli.
Os trabalhos são conduzidos pela Frente de Combate a Fraudes contra Escritórios de Advocacia, liderada pelo diretor executivo Thiago Degasperin.
“Esse é um problema grave, que atinge tanto a sociedade quanto a advocacia. Por isso, teremos ações preventivas para que os colegas protejam seus dados, além de proporcionar suporte jurídico à advocacia catarinense para responsabilizar criminalmente os envolvidos nessas fraudes”, reforçou Degasperin.
No site da OAB/SC, foi criada uma página exclusiva com todas as informações da operação (acesse aqui), que também detalha o passo a passo para a atuação.
O GOLPE EM SANTA CATARINA — CASOS REAIS
A promessa era simples: a liberação de um processo de auxílio-acidente que tramita na Justiça Federal de Criciúma. Do outro lado da linha, alguém que se apresentava como a advogada do caso e mostrava documentos aparentemente verdadeiros. Foi o suficiente para conquistar a confiança.
O golpe veio em seguida. Para liberar o valor, era preciso pagar uma taxa em tabelionato. Sem pressão, mas com a certeza de que se tratava de um procedimento legítimo, a vítima fez a transferência: R$ 5.783,00.
A farsa só foi descoberta quando outro contato, também criminoso, apareceu confirmando todos os dados e pedindo mais dinheiro para “resolver pendências”.
Além do prejuízo, ficou o impacto na vida real. “Financeiramente tive que controlar gastos e adiar alguns projetos. Emocionalmente a gente fica abalado, pensativo e desestruturado”, contou a vítima, que não será identificada.
“ELE FALOU O NOME DO MEU ADVOGADO E ERA A FOTO QUE EU TINHA SALVA NO CONTATO DELE”
O golpe do falso advogado não se restringe a uma região: casos foram registrados em várias cidades de Santa Catarina, e dois deles no Oeste do estado mostram como a fraude tem se tornado sofisticada e prejudicial para as vítimas.
Em um dos casos, um morador recebeu uma mensagem pelo WhatsApp. “Ele falou o nome do meu advogado e era a foto que eu tinha salva no contato dele”, contou a vítima. O golpista alegou que os atrasados da aposentadoria estavam liberados, mas era preciso pagar o imposto de renda. A mensagem chegou perto das 18h, e ainda disse que o fórum estava prestes a fechar. A vítima transferiu R$ 9.000,00, mas só percebeu o golpe quando o valor não entrou na conta. “Já estava com dificuldades financeiras e fiquei ainda mais. Emocionalmente, me senti enganado”, relatou. O caso foi registrado em boletim de ocorrência.
Outro morador da região, caminhoneiro, quase caiu no mesmo golpe. Um contato telefônico usou o nome do advogado responsável pelo seu processo e informou que havia um valor disponível, condicionado ao pagamento de uma taxa. “Estava na estrada e quase depositei R$ 20.000,00”, disse. Por sorte, entrou em contato com o escritório antes de fazer qualquer transferência e evitou o prejuízo, mas ficou abalado emocionalmente.
Os advogados alertam que os golpistas usam fotos de perfis, dados de processos e números de OAB para dar credibilidade às fraudes. A orientação é sempre procurar pessoalmente seu advogado ou por canais oficiais antes de qualquer pagamento. Quanto à recuperação dos valores já pagos, as chances são mínimas. “Segundo o delegado, é muito difícil encontrar os fraudadores”, explicou um dos advogados.
TRÊS VEZES ALVO: O RELATO DE UMA ADVOGADA VÍTIMA DO GOLPE
Uma advogada de Chapecó – cujo nome não será identificado – viveu na pele a ameaça do golpe do falso advogado, sendo alvo três vezes em pouco tempo. Felizmente, nenhum de seus clientes chegou a sofrer prejuízos, mas o episódio serve como alerta para toda a classe.
“Imediatamente comecei a comunicar os clientes, alertando sobre o golpe e reiterando que o número de celular do escritório e o meu particular não haviam mudado”, relata.
A primeira medida tomada sempre foi a comunicação direta e rápida com os clientes, reforçando os canais oficiais do escritório.
Além disso, ela registrou boletins de ocorrência, denunciou os números fraudulentos ao suporte do WhatsApp e consultou os processos judiciais dos clientes que foram contatados, tentando identificar quem havia acessado os autos recentemente. Em uma tentativa de reverter transações, buscou acionar o MED (Mecanismo Especial de Devolução) da instituição financeira, mas encontrou dificuldade devido ao banco ser digital e não ter canal apto para a solicitação.
A advogada alerta para o impacto que esses golpes têm na imagem da classe: “Esse tipo de golpe abala a confiança dos clientes e da própria sociedade em nossa classe. Mesmo quando explicamos que não somos nós que aplicamos o golpe, sempre fica uma dúvida quanto à nossa idoneidade e desperta medo nas vítimas.”
Para outros advogados, ela recomenda atenção redobrada às redes sociais, que servem de fonte para os criminosos acessarem dados pessoais, e o uso constante de ferramentas de verificação e proteção. “Alertar os clientes regularmente sobre a forma como os golpistas abordam é essencial. Isso os deixa mais preparados e cautelosos no momento da abordagem dos criminosos”, reforça.
Em um dos episódios, a ação rápida da advogada evitou que uma cliente caísse no golpe. “A cliente estava mantendo conversa com o golpista e me questionou sobre os documentos que ele havia enviado. Expliquei sobre a falsidade e conseguimos evitar qualquer prejuízo”, conta.
O relato mostra que, embora a ameaça seja constante e sofisticada, a prevenção, a informação e a comunicação direta podem salvar clientes e preservar a credibilidade da advocacia.
COMO AGIR DIANTE DO GOLPE DO FALSO ADVOGADO
Estão usando meu nome para golpes. O que fazer?
- Realize o MED (mecanismo especial de devolução) junto à instituição bancária em que foi depositado o valor.
- Registre um boletim de ocorrência imediatamente, preferencialmente na Delegacia de Crimes Cibernéticos.
- Comunique a OAB/SC pelo canal oficial do Contragolpe da Ordem para que sejam adotadas medidas institucionais, emitidos alertas à advocacia e ao público, e acionadas as autoridades competentes.
- Notifique bancos e instituições financeiras caso identifique movimentações suspeitas em seu nome.
- Solicite a remoção de conteúdos fraudulentos por meio de denúncias nas redes sociais ou de ofícios encaminhados às plataformas de internet.
COMO O CLIENTE PODE SE PROTEGER DO GOLPE
1. Verificação de Identidade
- Confirme a identidade do advogado antes de qualquer pagamento.
- Desconfie de contatos inesperados solicitando transferências, especialmente via PIX.
2. Pagamentos e Custas Processuais
- Efetue pagamentos apenas por guias oficiais (GRU, DARF, DARE, etc.).
- Solicite o detalhamento da cobrança e confirme diretamente com o advogado ou o escritório antes de transferir valores.
- Desconfie de solicitações urgentes ou fora do horário comercial.
3. Canais de Comunicação Seguros
- Utilize somente canais oficiais do escritório.
- Evite confiar em mensagens enviadas de e-mails genéricos, como @gmail.com ou @hotmail.com.
4. Reconhecimento de Tentativas de Golpe
- Desconfie de mensagens alegando haver valores a liberar mediante pagamento de taxas.
- Não compartilhe informações pessoais ou bancárias sem confirmar diretamente com o advogado.
- Verifique a autenticidade de documentos no Cadastro Nacional dos Advogados (CNA).
5. Medidas em Caso de Suspeita ou Fraude
- Não efetue pagamentos antes de confirmar a veracidade da solicitação.
- Registre o boletim de ocorrência imediatamente.
- Informe o banco para bloqueio ou reversão de transações suspeitas.
CONFIRMADV: VERIFICAÇÃO RÁPIDA CONTRA O GOLPE DO FALSO ADVOGADO
Como parte da campanha nacional de prevenção a golpes, a OAB Nacional lançou o ConfirmADV, ferramenta on-line que permite verificar, em poucos minutos, se um advogado está regularmente inscrito na Ordem.
O procedimento é simples: o cidadão informa o número de inscrição, o estado de registro e o e-mail fornecido pelo suposto advogado. O sistema envia uma solicitação automática para o e-mail cadastrado na OAB, e o profissional tem até cinco minutos para confirmar a identidade.
Se a resposta não ocorrer no prazo, o solicitante é informado de que a verificação não foi concluída.
Tentativas de golpe ou pagamentos indevidos podem ser denunciados pelo site https://fiscalizacao.oab.org.br, que direciona o caso para a seccional responsável.
AMEAÇA SILENCIOSA
O golpe do falso advogado não é apenas um crime de estelionato: é uma ameaça silenciosa que rouba dinheiro, destrói reputações e corrói a confiança na Justiça. Em Santa Catarina, a OAB/SC transformou a indignação em ação, criando mecanismos para proteger a sociedade e blindar a advocacia.
Cada denúncia feita, cada alerta compartilhado e cada cidadão informado representam uma barreira a mais contra os golpistas.
Assessoria de Comunicação da OAB/SC