Cerca de 50 corpos foram retirados de uma área de mata no Complexo da Penha por moradores da comunidade, nesta terça-feira , 28 de outubro de 2025, após a operação Contenção, realizada pelas forças de segurança do Estado do Rio de Janeiro. Os corpos foram levados para a Praça São Lucas, no centro da comunidade, e expostos a pedido de familiares para registro da imprensa. Eles afirmam que essas vítimas não constam no balanço oficial, que até o momento registra 64 mortos, 60 suspeitos e 4 policiais.
Se confirmado que os novos corpos não fazem parte da contagem oficial, o número total de mortos pode chegar a 120, o que tornaria a ofensiva a operação policial mais letal da história do Rio de Janeiro. A Polícia Militar foi procurada pela reportagem, mas ainda não se pronunciou sobre a denúncia feita pelos moradores. A comunidade aguarda a remoção dos corpos pelo Instituto Médico-Legal (IML).
Durante a noite de terça-feira, mais seis corpos foram encontrados em outra área de mata, no Complexo do Alemão, e encaminhados ao Hospital Getúlio Vargas.
Repercussão e denúncias
O ativista social Raul Santiago, morador do Complexo da Penha, fez uma transmissão ao vivo nas redes sociais em que classificou a ação como “uma chacina que entra para a história do Rio de Janeiro, do Brasil e marca com tristeza a realidade do país”.
Organizações de direitos humanos também se manifestaram contra a megaoperação:
- A ONG Rio de Paz afirmou que o governo do Rio promoveu “um banho de sangue” e criticou a política de segurança pública do estado.
- O Instituto Fogo Cruzado declarou que “em nenhum lugar do mundo uma operação estatal com tamanha letalidade pode ser considerada um sucesso”.
- O Instituto Marielle Franco classificou a ação como “suspensão do direito à vida” e afirmou que não se trata de política pública, mas de massacre.
- A Defensoria Pública da União (DPU) repudiou o aumento da violência e da letalidade policial, ressaltando que o combate ao crime deve ocorrer dentro da legalidade, com proporcionalidade e transparência na apuração dos fatos.
Reação do governo federal
Pressionado pela repercussão nacional e internacional, o governo federal anunciou uma reunião de emergência nesta quarta-feira (29), em Brasília, com o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro. O encontro contará com a participação dos ministros Rui Costa (Casa Civil) e Ricardo Lewandowski (Justiça e Segurança Pública), que vão cobrar explicações sobre a condução da operação.
Em nota, a Casa Civil informou que o encontro é uma continuação da reunião realizada na terça-feira, que teve a presença do presidente em exercício Geraldo Alckmin, além de ministros e representantes da Advocacia-Geral da União. No encontro, foi discutido o impacto da operação e seus desdobramentos para a segurança pública e os direitos humanos.
As forças federais afirmaram ainda que não foram consultadas nem receberam qualquer pedido de apoio do governo estadual para a realização da operação, contrariando declarações anteriores do governador.
Transferência de líderes criminosos
Ainda na terça-feira, o ministro Rui Costa confirmou que atendeu a um pedido do governo do Rio para transferir dez detentos para presídios federais. Segundo o estado, esses criminosos teriam liderado de dentro das prisões ações que deflagraram o caos na capital, como sequestro de ônibus e bloqueios de vias.
Entenda o caso
A operação Contenção foi iniciada na manhã de terça-feira (28) nos complexos do Alemão e da Penha, na zona norte do Rio, e é considerada pelas autoridades locais a “maior operação de enfrentamento ao crime organizado já feita no estado”. A ação mobilizou centenas de policiais militares, civis e federais, com apoio de blindados e helicópteros.
Entidades questionam a falta de transparência, denúncias de abuso, violações de direitos e supostas execuções sumárias. A Defensoria Pública e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ) acompanham o caso e cobram investigação independente.

Com informações da Agência Brasil.


